terça-feira, 16 de março de 2010

Joana e o sol

Imagem: Morro da Favela, Tarsila do Amaral.

" — Papai, inventei uma poesia.
— Como é o nome?
— Eu e o sol. — Sem esperar muito recitou: — “As galinhas que estão no quintal já comeram duas minhocas mas eu não vi”.
— Sim? Que é que você e o sol têm a ver com a poesia?
Ela olhou-o um segundo. Ele não compreendera...
— O sol está em cima das minhocas, papai, e eu fiz a poesia e não vi as minhocas... – Pausa. — Posso inventar outra agora mesmo: “Ó sol, vem brincar comigo”. Outra maior:
“Vi uma nuvem pequena
coitada da minhoca
acho que ela não viu”.
— Lindas, pequena, lindas. Como é que se faz uma poesia tão bonita?
— Não é difícil, é só ir dizendo".

(Perto do Coração Selvagem, Clarice Lispector)

3 comentários:

  1. Estava pronta pra chamar o texto de lindo quando vi o nomezinho "Clarice Lispector" ali embaixo, rs. Nem me surpreendo mais, sou completamente apaixonada por tudo que essa mulher escreve! E esse livro ainda não li (quero muito!), pretendo ler esse ano... Adorei o trecho, muito lindo. Beijos, moça!

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  2. A Clarice é incrível mesmo, não é? Amo a maneira como os textos dela te prendem, e a gente não consegue parar de ler até chegar ao fim! E esse trecho eu acho uma delícia!

    A Clarice era um gênio, não era?

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  3. Como a M., eu também ainda não li esse livro, apesar de ter muita vontade. "Perto do coração selvagem" - como não amar alguém que escreve um livro com um título desses?

    Beijo!

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